09 novembro, 2010

" A Margem"

Um diretor iniciante se aventura pela pela primeira vez em um longa-metragem, os 50 primeiros minutos de sua película são realizados somente em câmera subjetiva, cada imagem que vemos é um olhar de um personagem diferente. Assim aconteceu a ambiciosa estréia cinematográfica de Ozualdo Candeias com "A Margem", no ano de 1963. O filme acompanha a vida de quatro pessoas à beira de um rio imundo, o Rio Tietê, em um ambiente de total miséria.


O drama se passa em São Paulo que, naquela época, era a terra das grandes oportunidades. Mas, a mesma cidade que acolhe, também exclui. De certa maneira, esses quatro personagens representam esse olhar perdido, de desesperança, ou seja, à margem da sociedade. A história se dá em torno de dois casais, cujas relações amorosas são complexas e desordenadas. Na primeira cena, surge uma misteriosa mulher, tratada como uma entidade mística, que desce o rio em uma canoa, essa passagem dá início a peregrinação repleta de incertezas dos quatro indivíduos.


Os quatro personagens andam no entorno do rio, caminham por matagais desertos, perambulam em canteiros de obras e pelos escombros de uma igreja, e marcham pelo centro da cidade grande, mas não encontram repouso, nem sossego em lugar nenhum. Em meio a ausências, medos, paixões e ressentimentos a trama se desenvolve. Eles só alcançam a paz com a morte, que acontece na segunda parte do filme, onde finalmente acaba a jornada sem fim desses seres humanos marginalizados.


A história foi inspirada em acontecimentos reais publicados em jornais popularescos, as experiências dos personagens são mais reais que fictícias. "A Margem" é um filme sobre amor, um amor frágil preso a falta de sentido na vida, o decorrer da narrativa mostra que apesar da situação vivida os quatro personagens necessitam um do outro.


A aposta de Candeias foi mais estética do que técnica, ele queria captar no meio de um mundo de lodo, a graça dos olhares possíveis, através de sua câmera subjetiva e de seu mergulho nos sentimentos humanos, mesmo em situações de extrema miséria.

Candomblé, a religião de todos



Entre os séculos XVI e XIX, desembarcavam em terras brasileiras os navios negreiros, que traziam mais do que africanos, que tratados como escravos trabalhariam muito para erguer o Brasil Colônia. Juntamente com os negros viajava uma religião estranha aos brancos colonizadores, mas rica em lendas e tradições, que viria a ser uma das religiões mais populares do país.

O Candomblé é uma crença originalmente africana e que se encontrou aqui no Brasil, com seus batuques, cantos e danças é mais que uma religião, é uma festa. Possui divindades muito parecidas com os seres humanos, que sentem raiva, inveja, amor, tem personalidades fortes, são instáveis e emotivos assim como todos nós, esses são os orixás.

Os orixás

Exu, Ogum, Oxóssi, Obaluaiê, Ossaim, Oxumaré, Xangô, Oxum, Iansã, Nanã, Iemanjá, e Oxalá são os orixás mais cultuados. Existem mais de 200 orixás na África, mas na vinda pra o Brasil muitas coisa se perdeu. Cada orixá tem seu dia da semana, suas roupas, seu símbolo, suas cores próprias e etc.

Exu é o mensageiro entre os deuses e os homens, guardião da porta da rua e das encruzilhadas, é atrevido, agressivo, vingativo e gosta de receber farofa com dendê, feijão, inhame, mel e aguardente como oferendas. Seu símbolo é o ogó, um bastão em formato de pênis, adornado com búzios e cabaças. E seu elemento é o fogo. Seu dia é segunda-feira e suas cores são vermelho e preto. Os animais sacrificados para Exu são o bode e o galo preto. Somente através dele é possível invocar as divindades.

Ogum é o deus da guerra e do fogo, conhece os segredos da produção de metal e seu elemento é o ferro. É impaciente, viril e obstinado e suas oferendas são feijoada, xinxim e inhame. Tem como símbolos a espada e a enxada. Seu dia da semana é terça-feira e sua cor é azul marinho. Como sacrifício a Ogum deve se oferecer galo e bode avermelhados. Sem sua proteção nenhum trabalho consegue ser proveitoso.


Oxóssi é o deus da caça e das matas, seu elemento, obviamente é a floresta. É um orixá intuitivo, ágil e emotivo e suas oferendas são milho, peixe, arroz e feijão fradinho. Tem como símbolo o rabo de cavalo e o chifre de boi e suas cores são o verde e o azul claro. Deve se oferecer a ele sacrifício de galo e bode a Oxóssi e seu dia da semana é quinta-feira.

Obaluaiê é o deus das pestes, epidemias e doenças de pele, ele é considerado o médico dos pobres e seu elemento é a terra. É tímido e vingativo e recebe como oferenda feijão preto, farofa, pipoca e milho, tudo regado com muito dendê. Seu sacrifício é de porco, bode e pato e seu símbolo é o xaxará, uma espécie de capa feita de palhas e búzios, que ele usa para esconder as marcas que possui em seu corpo, marcas das próprias doenças de pele. Suas cores são o vermelho, preto e o branco e seu dia é a segunda-feira.

Ossaim é o deus das folhas e ervas medicinais, sabe como usá-las e conhece palavras mágicas, as ofós, que despertam os poderes das plantas, seu elemento são as matas. Ele é emotivo e instável e suas oferendas são feijão, milho vermelho, mel e farofa. Seu dia da semana é quinta-feira, seu sacrifício deve ser de galo e carneiro e seu símbolo é uma lança com pássaros em forma de leque e um feixe de folhas. Suas cores são o branco e o verde claro.

Oxumaré é o deus do arco-íris e da chuva, seu elemento é a água. Ao mesmo tempo é de natureza masculina e feminina, é tranquilo e sensível e conduz a água entre o céu e a terra. Gosta de oferendas de milho branco, acarajé, feijão com ovos e inhame e seu sacrifício é de bode, tatu e galo. Seu símbolo é uma cobra de metal que morde o próprio rabo, o dia da semana dedicado a ele é a quinta-feira e suas cores são o amarelo, verde e o azul claro.

Xangô é o deus do fogo, dos raios e do trovão. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó, uma cidade localizada na Nigéria. Ele é viril, atrevido, prepotente violento e justiceiro, castigando aqueles que mentem. Seu elemento é o fogo e seu símbolo é um machado duplo, conhecido como oxé. Seu dia é a quarta-feira, suas cores são o branco e o vermelho e seu sacrifício é de galo, pato, carneiro e cágado. Como oferenda recebe o amalá, que é uma mistura de quiabo, camarão seco e dendê.

Oxum é a deusa das águas doces, rios, fontes e lagos e também da fertilidade, da riqueza e do amor, seu elemento é a água. Ela é tranquila, feminina e maternal e seu símbolo é um leque espelhado, o abebê. Suas oferendas são de milho branco, xinxim de galinha, peixes de água doce e ovos e seu sacrifício deve ser de cabra e galinha. Seu dia da semana é o sábado e sua cor é o amarelo ouro.

Iansã é a deusa dos ventos e das tempestades, senhora dos raios e dona da alma dos mortos, seu elemento é o fogo e ela é impulsiva, corajosa e imprevisível. Seus símbolos são uma espada e um rabo de cavalo, suas cores são o vermelho, o rosa e o marrom e seu dia é a quarta-feira. Recebe oferendas de acarajé, milho branco e feijão e os animais sacrificados a ela são a cabra e a galinha.

Nanã é a deusa da lama e do fundo dos rios, é ligada à fertilidade, à doença e à morte, ela é vingativa e dissimulada e seu elemento é a terra. Seu símbolo é o ibiri, um cetro de palha e búzios, suas cores são o branco e o azul e seu dia da semana é o sábado. Como sacrifício recebe galinha e cabra e como oferenda recebe milho branco, arroz, mel e dendê. Por ser a orixá mais velha de todos, é muito respeitada.
Iemanjá é a deusa dos mares e dos oceanos, é a mãe de todos os orixás, por isso é representada com seios fartos que simbolizam a maternidade e a fecundidade, ela é calma e maternal, seu elemento é a água. Seus símbolos são a espada e o leque. Recebe como oferenda peixes do mar, arroz, milho e camarão. São sacrificados a ela o porco, a galinha e a cabra. Suas cores são o azul claro e o branco e seu dia da semana é o sábado.

Oxalá é o deus da criação, é o orixá que criou os homens e é representado de duas formas: Oxaguiã, jovem, e Oxalufã, velho. Seu elemento é o ar e ele é sábio, obstinado, equilibrado e tolerante, seu símbolo é o oparoxó, um cajado de alumínio com adornos. Suas oferendas são arroz, mel, milho branco e massa de inhame e seu sacrifício é de cabra e galinha. Sua cor é o branco e seu dia da semana é a sexta-feira.

A iniciação

Todos estão prontos para a cerimônia, os alabês, tocadores de atabaque, já estão a postos em seus lugares. São cerca de 50 pessoas que aguardam sentados o começo do ritual. Homens de um lado, mulheres de outro para evitar paqueras, porque é claro, todos estão ali com outro intuito. Estamos em um templo de Candomblé, também conhecido como terreiro ou casa de santo, o espaço é chamado de casa porque é ao mesmo tempo moradia e templo, a vida cotidiana dos seguidores do Candomblé se mistura aos rituais dos orixás.

Ás 18hs exatamente, na Casa Candomblé de Angola Mãe Oiá Guerereginá, começa um dos rituais mais importantes do Candomblé, a iniciação. “Assim que você começa a frequentar a casa, você tem que se iniciar e fazer todo o ritual necessário”, diz Wagner, que frequenta a casa que foi fundada por seus pais, desde a infância. A iniciação é um ritual que todos aqueles que desejam frequentar e seguir os preceitos do Candomblé devem cumprir. Heitor Costa, 14 anos e Carlos Carvalho, 48 anos serão iniciados, ambos são filhos de Obaluaiê e passaram por vários rituais até se tornarem filhos de santo.

O próprio orixá indica quando a pessoa deve ser iniciada, o sinal é o “bolar no santo” ou “cair no santo”, que geralmente acontece sem previsão, normalmente em uma festa, durante os cânticos e danças o orixá se manifesta na pessoa que é agitada por fortes tremores. Muitos contam que quando bolaram no santo sentiram calor, fraqueza e sensação de desmaio. Depois que cai no santo, o futuro abiã (noviço) não consegue se lembrar de nada do que aconteceu e é levado ao roncó, um quarto no terreiro reservado à pessoa que bolou.

Depois disso acontece o bori, uma cerimônia que reforça a ligação do iniciado com o seu orixá. Nesse ritual o abiã sacrifica aves e o sangue dos animais é usado para marcar o corpo do noviço e para banhar as oferendas ao orixá. O ritual só acaba quando as aves são servidas ao pai e mãe de santo do terreiro. Depois do bori o noviço começa a preparar o “enxoval”, que são as roupas e adereços de seu orixá.

Durante 21 dias o abiã fica confinado no roncó, onde conhece toda a hierarquia da casa, os rituais, as orações, a dança de seu orixá e suas obrigações. Nesse período ele toma infusão de ervas que o deixam entorpecido, tem a cabeça raspada e marcada com navalha – é por esse corte que o orixá entra quando é incorporado. No final de tudo, o abiã é batizado com sangue de um animal quadrúpede sacrificado.

Depois de passar por todos os passos da iniciação, o noviço é apresentado à comunidade em uma cerimônia como esta que nós presenciamos. Primeiro eles vestem branco em homenagem a Oxalá, pai de todos. Depois voltam com roupas coloridas e a cabeça pintada, segundo as cores de seus orixás e por últimos os abiãs entram em transe, vestidos com a roupa do deus incorporado e anunciam oficialmente o nome do orixá a que pertencem, a partir daí o iniciado passa a se chamar iaô. 

“O pai de santo joga o búzio, é o búzio que responde, não é o pai de santo que escolhe o que você vai ser, por exemplo, ele não diz que ele vai ser de Ogum e ela vai ser de Iansâ, ele já vem. Eu mesmo sou de Oxóssi, desde pequeno quando jogaram o búzio para mim.”, explica Wagner.


Outras cerimônias

Além da iniciação acontecem outras cerimônias em um terreiro de Candomblé. Como o toque, o sacrifício, a oferenda e o padê de Exu. O toque é a festa, onde acontece à batida dos atabaques que convocam os orixás, nessa cerimônia existe a chamada ordem do xirê (que significa brincadeira), que é a ordem que cada orixá se manifesta.

O toque é dividido em três partes, a primeira acontece à tarde, com o sacrifício de no mínimo dois animais, um para Exu e outro para o orixá, os animais são mortos com um golpe na nuca, depois tem a cabeça e os membros cortados. Esse sacrifício é feito somente diante dos membros da comunidade. Depois do sacrifício acontece a oferenda, onde o fígado, a moela, o coração, a cabeça e as asas dos animais são oferecidos aos orixás em um vaso de barro, chamado alguidar.

Ainda antes da festa acontece o padê de Exu, ou seja, o despacho de Exu, que também é um ritual fechado ao publico. Como é Exu quem convoca os orixás para a festa dos humanos, é preciso agradá-lo com oferendas de farofa, mel, cachaça e etc. As oferendas a Exu são levadas a porta do terreiro, já que ele é o orixá guardião da entrada.

Depois desses rituais, acontece a festa em si, que é aberta a pessoas que não fazem parte da comunidade e é quando os filhos de santo recebem e fazem homenagem aos orixás. A festa não acontece sem o som dos três atabaques, eles falam com os deuses, cada orixá é invocado com cânticos próprios e os filhos de santo entram na roda segundo a ordem de xirê, um a um, primeiro o filho de Ogum, depois filhos de Oxóssi, Obaluaiê, Ossaim, Oxumaré, Xangô, Oxum, Iansã, Nanã e Iemanjá. Os filhos de santo dançam e cantam no ritmo dos atabaques até que o pai ou mãe de santo autorize sua saída da roda. Cada Iaô (filho de santo), tem sua equede, uma espécie de camareira que arrumam suas roupas e adereços e cuidam deles durante o transe. Ao final da festa, como encerramento, acontece a roda de Oxalá, o deus criador dos homens

Calendário Litúrgico

As festas do terreiro geralmente não têm data para acontecer, mas existem festas com dia marcado que geralmente são associadas aos dias santos do catolicismo. As datas variam de terreiro para terreiro, mas o que importa realmente é comemorar cada orixá em sua época certa. As principais festas e comemorações, durante o ano, são as seguintes:

Abril: Feijoada de Ogum e festa de Oxóssi, em qualquer dia.
Junho: Fogueiras de Xangô, nos dias 25 e 29.
Agosto: Festa para Obaluaiê e festa de Oxumaré, em qualquer dia.
Setembro: Águas de Oxalá, um ciclo de festas que pode se estender até dezembro; festa de Erê, em homenagem aos espíritos infantis; festa das iabás (esposas de orixás) e festa de Xangô, em qualquer dia.
Dezembro: Festa de iabás Iansã, no dia 4 e festa de Oxum e Iemanjá, no dia 8 (Iemanjá também é homenageada na passagem de ano).
Janeiro: Festa de Oxalá, no segundo domingo depois do dia de Reis, 6 de Janeiro.
Quaresma: O encerramento do ano litúrgico acontece durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa, com o Lorogun, homenagem a Oxalá.

Não existe nenhuma estatística que dê o numero exato de fieis que seguem o Candomblé no Brasil. Segundo a última pesquisa do IBGE em 1998, 0,6% dos chefes de família seguem cultos afro-brasileiros. São índices muito pequenos em relação a realidade que presenciamos nos cultos a Iemanjá na passagem de ano, onde multidões se reúnem para homenagear a deusa dos mares. Uma explicação para isso é que os próprios fieis não assumem sua religiosidade, por medo de sofrerem preconceito. Mas a Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Fenatrab), garante que há 70 milhões de brasileiros envolvidos direta ou indiretamente com terreiros. Parece um exagero, mas o mundo do Candomblé é uma festa, um fenômeno impressionante da civilização brasileira. 


*Texto redigido para a disciplina de Teoria da Cultura, sob a orientação do Professor Marcos Alexandre Capellari.

Após dez anos, o sarampo volta a preocupar os brasileiros

A doença atingiu vários estados e campanhas de vacinação acontecem em todo o país



          Há dez anos não era registrado nenhum caso de sarampo no Brasil, porém desde o inicio deste ano, foram confirmados 57 casos da doença em todo o país. Dentre os estados atingidos estão o Rio Grande do Sul, a Paraíba e o Pará.          

            A Paraíba é o estado que contabiliza o maior número de vítimas, são 47 pessoas no total. A incidência ocorre principalmente na capital, João Pessoa, e nas crianças com menos de cinco anos. As autoridades de saúde do município intensificaram a vacinação na faixa de idade de seis meses a cinco anos. A meta é imunizar 50 mil crianças até a segunda quinzena de novembro.

            No Rio Grande do Sul, foram registrados sete casos da doença, já no Pará ocorreram três casos de sarampo. Segundo o Ministério da Saúde, todos os registros do vírus no Brasil nos últimos dez anos, tem como origem pessoas que vieram do exterior e não estavam vacinadas.

            Preocupados com a possibilidade da chegada da doença, as autoridades de saúde do estado de São Paulo querem vacinar 12 milhões de pessoas contra o sarampo. Crianças e jovens entre 01 e 19 anos, devem procurar os postos de vacinação até o final desse mês.

            O Brasil entregou à Organização Pan-americana de Saúde (Opas), em setembro, um relatório para receber o certificado de país livre do sarampo, segundo o Ministério, os casos atuais da doença não interferem nesse pedido, pois o vírus causador da doença é importado. O vírus precisa circular pelo menos um ano, para ser considerada transmissão dentro do país.

            Doença contagiosa, o sarampo é transmitido pelo ar ao respirar, tossir, espirrar ou falar e atinge principalmente crianças com menos de seis anos. Os sintomas são: febre alta, tosse, manchas avermelhadas pelo corpo, falta de apetite e dor de cabeça.

            “Minha filha teve sarampo quando era pequena, porque é uma doença que se propaga facilmente entre as crianças, que estão sempre em contato umas com as outras na escola. Acho que é muito importante a vacinação e a higiene, pois o sarampo é uma doença perigosa. Não podemos deixar que ela volte a preocupar o país.”, diz Elizabeth Oliveira, 47, funcionária pública.